Mineiro que é mineiro tem fome de sílaba
e deve ser por isso que guarda
dentro do peito poemas inteiros.
Entre tantas letras embaralhadas, o vagão das ideias
se perde e a coisa vira trem, ou o trem vira coisa.
É, o trem tá feio.
Ser mineiro é escutar no silêncio uma prosa bonita
e musicar em sotaque frases curtas.
O mineiro não fala, ele canta com
um sorriso tímido no canto da boca.
Nem todo mineiro é tímido, mas todo
mineiro carrega o charme da timidez.
Das bochechas coradas, do sorriso amarelo que ganha novas
cores num piscar de olhos abertos, bem abertos.
Mineiro parece não gostar de elogio,
mas gosta, pode apostar.
Sempre retruca, mas cá dentro tá todo feliz.
São seus olhos. Ele diz.
Mineiro se esconde em suas montanhas,
mas desmorona em abraço apertado.
Chora água doce e se derrama em cachoeira.
Ser mineiro é fazer da cozinha a melhor parte da casa.
Receber os amigos com mesa farta.
Mineiro tem mesmo fome seja de letra ou de amor.
O mineiro não se apaixona “pelas”
pessoas e, sim, “com” as pessoas.
Ser mineiro é sentir as coisas sem dar nome.
É se confundir entre dois ou três
beijinhos quando conhece alguém.
São três pra casar.
Ser mineiro é passar a noite inteira em um
ônibus e ainda não sair de Minas.
As montanhas parecem continentes,
mas fazem tudo parecer pertim.
É logo ali.
Nunca confie em um “ali” de mineiro.
De resto, pode confiar.
Seja nas reticências que ele não diz
ou nos versos dos seus poemas inteiros.
Ser mineiro é saber que as melhores
coisas da vida não são coisas.
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